A Luz e a Sombra 1 DESCONSTRUIR
A Luz e a Sombra 1 DESCONSTRUIR
Normalmente, vemos a vida como uma construção umas vezes complexa e difícil
e outras com momentos mais agradáveis, umas vezes, dolorosa e cheia de mágoas e
ódios e outras tantas onde respiramos alguns sorrisos. Mas, em todas essas
situações vêmo-la como uma construção onde as peças vão sendo encaixadas, substituídas,
a sua forma alterada ou modificada mas, a sua estrutura não. Essa estrutura é a
base que nos dá a solidez necessária para que sejamos capazes de enfrentar as
situações mais ou menos difíceis que nos surgem no decorrer do nosso caminho,
sem essa base , acreditamos nós com absoluta convicção, que jamais seriamos capazes
de o conseguir. Então para validarmos as crenças que tão laboriosamente elaborámos
e que no fundo não é mais do que uma espécie de cortina que nos protege de nós
mesmos, assim limitamos o nosso espaço e muito mais ainda os nossos horizontes.
Sentimo-nos a salvo, afinal é fácil, tão fácil, podemos então deitar a cabeça
no travesseiro quase orgulhosos quase felizes. E como num passo de mágica
transformamos quase tudo em material descartável, trocamos de roupa, trocamos
de pessoas, trocamos de ideias, trocamos de amigos, trocamos de livros, trocamos
de crenças e trocamos, e trocamos, e trocamos, e trocamos.
Alteramos e mudamos a forma das coisas, das peças e isso é bom, alteramos
a estática, geramos movimento e isso, também, é bom. Mudamos de bairro só
porque está na moda, mudamos de clube para um melhor, mudamos de ideias para
combinar com o chefe, mudamos , mudamos, mudamos e mudamos,... Mas não por nós!
Corremos de um lado para o outro em milhares de realizações, fazendo o impossível
para estar um passo sempre à frente de alguém e nessa desvairada competição
chegamos à noite esgotados de tudo, de nada, de nós. E fazemos tudo isto sem
sair do mesmo ciclo e sentados, corremos, corremos, corremos e corremos ocultamos
a nossa própria luz atrás das luzes artificiais que criamos e escondemos a nossa
própria sombra nas catacumbas mesmo por debaixo da nossa própria estrutura,
olhamo-nos ao espelho sem ver o essencial, olhamos o cabelo, olhamos a roupa, olhamos
e olhamos sem ver; olhamos o supérfluo, nem reparamos em nós tal como não
olhamos quem está ou passa à nossa volta. Sempre mais rápido, quanto mais
velocidade melhor desta forma não vemos, não ouvimos nem lemos assim podemos
ignorar...
Ignorar o vazio e o medo aterrador do vazio que afinal não é mais do que
um terreno desconhecido para nós logo assustador, e o silêncio que pesa
toneladas torna. Insuportável, onde os nossos fantasmas rodopiam sorrindo com
um prazer sádico.
Criamos uma estrutura tão sólida quanto possível, oscilando entre o rígido
e o flexível consoante o momento ou a conveniência com a firme convicção de que
nada nos faz mudar. O tempo que tanto gostamos de controlar é mutável e nós
mudamos com o tempo mas, agarramo-nos á crença de que nada vai mudar, nós
controlamos . E quando por razões que não conseguimos controlar tudo muda,
sejam essas circunstâncias de ordem física, mental, emocional ou de outra ordem
qualquer não suportamos... angústias, depressões, desistência e abandonos...
Nós só aprendemos a construir, a mudar as formas ou trocar as peças nada mais
que isso. Levamos a vida inteira encostados à sombra das nossas certezas
absolutas e criamos cadeias de luz para ofuscar e esconder os nossos mais
profundos receios e medos.
Desde a nossa concepção que somos fustigados,
bombardeados e moldados e mesmo que essas influências não sejam assim tão notórias
elas são uma influência incontestável ao longo da nossa vida embora muitas
vezes as alteremos, isso influencia a nossa personalidade. Obvio que não
pretendo converter ninguém ás minhas ideias, bem como sobre este assunto se
poderia escrever um tratado que probamente não se esgotaria o tema. E se por um
motivo qualquer tudo mudar??? E se tudo mudar??? Se mudar??? Mudar??? E os nossos
medos quebrarem as cadeias e devorarem as nossas certezas??? E a nossa
estrutura começar a abanar apenas porque tudo mudou? Parece que as placas
tectónicas mesmo por debaixo dos nossos pés enlouqueceram. E se acontecer? Mas
não tem que acontecer!
À mim um dia aconteceu, um dia deixei mesmo de ver.
À minha frente uma cortina branca, opaca, para além da qual nada via.
Noutros dias era totalmente negra, aconteceu!?!?!?
A partir daqui, uns tempos depois quando me decidi tentar aprender a
viver duma forma diferente, dei início à minha desconstrução! Eu não disse
destruição, eu disse desconstrução; a desconstrução é tão somente um processo
de alteração ou inversão dos nossos sentidos e aceitação da necessária mudança
para esta nova forma de viver. O sentidos tais como a audição, o olfacto e o tato
passam agora a ter um sentido ou valor como jamais tiveram até aqui, a pouco e
pouco desenvolvemos o seu treino e eles vão ficando mais apurados, é um
processo lento mas fundamental no qual temos de investir muita paciência e
treino. Assim, vamos desenvolvendo uma espécie de teia à nossa volta que nos
vai preparando para entrar num estado de alerta permanente que embora seja
muito cansativo ao início com a continuidade vai sendo mais confortável e
seguro. O nosso cérebro não aceita de forma pacífica a inversão dos sentidos,
logo é preciso desconstruir a forma como ele reconhece e recebe as imagens e
isto não é simples. São agora as nossas mãos e dedos que passam a ser os
grandes transmissores de imagens ao cérebro, sempre ajudados tanto quanto necessário
pelo olfacto e a audição.
Só desta forma é possível dar início à nova reconstrução da nova pessoa
que somos agora, nem melhor nem pior não se pode ver isto assim mas, uma pessoa
forçosamente diferente. Temos de ter sempre presente que para atingirmos este
objectivo precisamos de construir dois pilares fundamentais, primeiro aprender,
aprender, aprender sempre! Foco e dedicação máximos, sem isso não acredito ser possível.
Segundo pilar, desistir é não desistir,
desistir do que já não nos interessa e não do que são os nossos objectivos.
Desiste do que já não tens ou não podes fazer e não desistas do que podes
conquistar, empenhamento e concentração máximos. É muito difícil? Sim! Mas é possível
e é nisso que temos de nos concentrar, dar o melhor de nós. Eis aqui a chave do
novo caminho.
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